Tese de Doutorado
Tese de Doutorado
Muitos enunciados discursivos abrem o convite-resumo desta tese à reflexão (de um recorte tardio) da obra do centenário arquiteto Sergio Bernardes (1919-2002). De “espírito inventivo, interessado nos problemas mais diversos aatualidade...” (BRUAND, 1981) ao apelativo “herói de uma tragédia moderna” (CAVALCANTI, 2004); de “o arquiteto da utopia” com “devaneios de um visionário” a Flash Gordon da arquitetura brasileira (JORNAL DO BRASIL, 1983). De “um dos arquitetos mais criativos, desprendidos e libertários” (CAÚLA, 2019) a “protagonista de paradoxos: sonho de consumo da elite carioca e um idealista que abandona tudo para se dedicar a propostas sociais que envolvem arquitetura e urbanismo.” (MNBA, 2019) E por aí vai. Não é nada disso. Mas é tudo isso e vai muito além. Muitas vezes redutoras e/ou maniqueístas essas leituras ora exacerbam a posição mítica de um desejado-desejável gênio-criador modernista de 2ª geração, com algum lugar na historiografia de matriz costiana, ora o deslocalizam à beira do desautorizo – um delirante tecnólogo visionário, “misto de professor Pardal e profeta de alguma religião sem Deus” (WISNIK, 2010), ainda relegado ao ostracismo. Do silêncio discursivo à dificuldade historiográfica sua obra dissonante mostra-se inadequada à narrativas hegemônicas de continuidade. Entre o olimpo modernista de deuses com projetos simbólicos e um limbo perdido de indigestos fantasmagóricos e/ou alegorias pop, é numa vertente estranha – incômoda – ao discurso arquitetônico modernista brasileiro que Bernardes orbita. “Figura de exceção tanto por seu fascínio pela lógica industrial quanto por seu entendimento do projeto como desafio indissociável da imaginação e do risco”, operando num contexto de grande esforço de racionalização para “superação do subdesenvolvimento num quadro de crescente tensionamento político” (NOBRE, 2019), de 1965 em diante, muitos Sergios Bernardes vão se misturando por entre diversos personagens e projetos – arquitetônicos, urbanos, planos, planejamentos, sistemas, máquinas, produtos, etc. –, todos de inegável teor imaginativo. Alguns deles permeiam com maestria o campo ficcional convidando ao percurso narrativo/interpretativo sob as lentes de Umberto Eco em seus passeios pelos bosques da ficção. Esta tese nada mais busca, portanto, que construir três narrativas sobre um recorte constelar da obra arquitetônica de Sergio Bernardes – cinco projetos não construídos entre 1984 e 1976 – tendo como esteio o limiar borrado dos discursos histórico e ficcional no fazer historiográfico, problematizando, em especial, (a falta de) o lugar da ficção (bernardiana) na historiografia da chamada arquitetura moderna brasileira.
Data de defesa: 13/06/2022Pessoa
- Ana Luiza de Souza Nobre
- Ana Paula Polizzo
- Gustavo Rocha-Peixoto [Orientador(a)]
- João Masao Kamita
- Lais Bronstein Passaro
- Luis Alberto Muller
- Marcelo Augusto Felicetti da Silva [Autor(a)]
Curso
- Doutorado PROARQ
Linha de Pesquisa
- Teoria e Ensino de Arquitetura